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Wednesday, September 28, 2016

Remnant, CFN Open Letter to Pope in Portuguese - Com Ardente Preocupação: Acusamos o Papa Francisco

By:   The Remnant & CFN
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Remnant, CFN Open Letter to Pope in Portuguese - Com Ardente Preocupação: Acusamos o Papa Francisco

Uma Carta Aberta de The Remnant e Catholic Family News


Vossa Santidade,
O relato a seguir, escrito em nossa desesperança como membros menores do laicato, é uma acusação em relação a seu pontificado, que tem sido uma calamidade para a Igreja na proporção em que encanta os poderes deste mundo. O evento culminante que nos impeliu a dar esse passo foi a revelação de sua carta “confidencial” aos bispos de Buenos Aires autorizando-os, com base somente em suas próprias opiniões expressas na Exortação Amoris Laetitia, a admitir publicamente certas pessoas que vivem em adultério público, em “segundas uniões”, aos sacramentos da Confissão e da Sagrada Comunhão sem que tenham qualquer propósito firme de emendar suas vidas abstendo-se de relações sexuais adúlteras.

V.S. desafiou assim as palavras do próprio Nosso Senhor que condenam o divórcio e o “recasamento” como adultério per se sem exceção, a advertência de São Paulo sobre a punição divina para a recepção indigna do Santíssimo Sacramento, o ensinamento de seus dois predecessores imediatos em consonância com a doutrina moral e a disciplina eucarística bimilenares da Igreja enraizadas na Revelação divina, o Código de Direito Canônico e toda a Tradição.

V.S. já provocou uma fratura na disciplina universal da Igreja, que alguns bispos ainda mantêm apesar da Amoris Laetitia, enquanto outros, incluindo os de Buenos Aires, estão anunciando uma mudança baseada somente na autoridade de sua escandalosa “exortação apostólica.” Nada parecido jamais ocorreu na história da Igreja.

Ainda assim, quase sem exceção, os membros conservadores da hierarquia guardam um silêncio político, enquanto os liberais exultam publicamente em triunfo graças a V.S. Quase ninguém na hierarquia se levanta em oposição ao seu temerário desprezo pelas sãs doutrina e prática, ainda que muitos murmurem privadamente contra essa depredação. Assim, como aconteceu na crise ariana, resta aos leigos defender a Fé em meio a uma deserção quase universal do dever por parte dos hierarcas.

É claro que nada somos no esquema das coisas, mas mesmo assim como batizados, membros leigos do Corpo Místico, somos dotados do direito dado por Deus e do seu dever correlato, conservado na lei da Igreja (cf. CIC cân. 212), de comunicarmo-nos com V.S. e com nossos irmãos católicos a respeito da aguda crise que seu governo da Igreja provocou em meio a um estado já crônico de crise eclesial que se seguiu ao Concílio Vaticano II.

Considerando que petições privadas mostraram-se completamente inúteis, como observamos abaixo, publicamos este documento para descarregar o peso de nossa consciência em face do grave dano que V.S. infligiu, e ainda ameaça infligir, sobre as almas e a comunidade eclesial, e para exortar nossos irmãos católicos a se levantarem em oposição de princípios a seu contínuo abuso do ofício papal, particularmente no que concerne ao ensinamento infalível da Igreja contra o adultério e a profanação da Santíssima Eucaristia.

Ao tomar a decisão de publicar este documento, fomos guiados pelo ensinamento do Doutor Angélico sobre uma questão de justiça natural na Igreja:

Devemos, porém, saber que, correndo iminente perigo a fé, os súditos devem advertir os prelados mesmo publicamente. Por isso Paulo, súdito de Pedro, repreendeu-o em público, por causa de perigo iminente de escândalo para a fé. E assim, diz a glosa de Agostinho: “O próprio Pedro deu aos maiores o exemplo de se porventura se desviarem do caminho reto, não se dedignem ser repreendidos mesmo pelos inferiores.” [Summa Theologiae, II-II, Q. 33, Art 4]

Fomos guiados também pelo ensinamento de São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja, em relação à resistência lícita a um Romano Pontífice renitente:

Portanto, como seria lícito resistir a um Pontífice que atacasse um corpo, assim é lícito resistir a ele se ataca almas ou perturba um estado, e muito mais se ele tenta destruir a Igreja. Digo que é lícito resistir a ele, não fazendo o que ele manda e impedindo-o, para que não consiga realizar sua vontade... [De Controversiis sobre o Romano Pontífice, Lv. 2, Cap. 29].

Católicos em todo o mundo, e não apenas “tradicionalistas”, estão convencidos de que a situação vislumbrada hipoteticamente por Belarmino é uma realidade hoje. Essa convicção é o motivo deste documento.

Que Deus seja o juiz da retidão de nossas intenções.
19 de setembro de 2016.
Festa de São Januário no Mês de Nossa Senhora das Dores

Christopher A. Ferrara, Michael J. Matt, John Vennari

LIBELO ACUSATÓRIO

Pela graça de Deus e pela lei da Igreja, uma queixa contra Francisco, Romano Pontífice, por conta do perigo à Fé e do grave dano às almas e ao bem comum da Santa Igreja Católica.

PARTE I
Que Tipo de Humildade É Essa?

Na noite de sua eleição, falando da sacada da Basílica de São Pedro, V.S. declarou: “o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma.” Apesar de a multidão presente consistir de pessoas de todo o mundo, membros da Igreja universal, V.S. expressou agradecimento pelo “acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo.” V.S também expressou a esperança de “que este caminho de Igreja, que hoje começamos... seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela”. V.S. pediu aos fiéis presentes na Praça de São Pedro para rezarem, não pelo Papa, mas pelo “seu Bispo” e disse que no dia seguinte iria “rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira.”

Seus estranhos comentários naquela ocasião histórica começaram com a exclamação banal “Irmãos e irmãs, boa noite!” e terminaram com uma intenção igualmente banal: “Boa noite e bom descanso!” Nem uma única vez durante aquele primeiro discurso V.S. referiu-se a si mesmo como Papa ou fez qualquer referência à suprema dignidade do ofício para o qual tinha sido eleito: o de Vigário de Cristo, cujo mandato divino é ensinar, governar e santificar a Igreja universal e liderá-la em sua missão de fazer discípulos de todas as nações.

Quase desde o momento de sua eleição, deu-se início a um tipo de campanha de relações públicas interminável cujo tema é sua singular humildade entre os Papas, um simples “Bispo de Roma” em contraste com as supostas pretensões monárquicas de seus predecessores e suas elaboradas vestes e sapatos vermelhos, que V.S. rejeita. V.S. deu indicações precoces de uma descentralização radical da autoridade papal em favor de uma “Igreja sinodal”, tendo como exemplo os ortodoxos, de quem poderíamos “aprender algo mais sobre o significado da colegialidade episcopal e sobre a sua experiência da sinodalidade.” A mídia exultante saudou imediatamente “a revolução de Francisco.”


Porém, essa demonstração ostentosa de humildade foi acompanhada por um abuso do poder do ofício papal sem precedentes na história da Igreja. Nos últimos três anos e meio, V.S. promoveu incessantemente suas próprias opiniões e desejos sem a menor consideração pelo ensinamento de seus predecessores, pelas tradições bimilenares da Igreja ou pelos imensos escândalos que V.S. causou. Em inúmeras ocasiões, V.S. chocou e confundiu os fiéis e encantou os inimigos da Igreja com declarações heterodoxas e até disparatadas, ao mesmo tempo em que amontoava insulto em cima de insulto sobre os católicos observantes, que V.S. continuamente ridiculariza como fariseus de última hora e “rigoristas.” Seu comportamento pessoal tem se rebaixado frequentemente a atos fúteis para agradar a multidão.

V.S. tem ignorado consistentemente a advertência salutar de seu predecessor imediato, que renunciou ao papado sob circunstâncias misteriosas oito anos depois de ter pedido aos bispos reunidos diante de si no começo de seu pontificado: “Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos.” Para citá-lo em sua primeira homilia como Papa:

O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. Ele não deve proclamar as próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração, como diante de qualquer oportunismo.

Uma Intromissão Seletiva em Política, Sempre Politicamente Correta

Ao longo de seu mandato como “Bispo de Roma”, V.S. tem mostrado insuficiente consideração pelas limitações da autoridade e competência papais. V.S. tem se intrometido em questões políticas tais como: política de imigração, direito penal, meio-ambiente, restauração de relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba (enquanto ignora o sofrimento dos católicos sob a ditadura Castro) e até se opondo ao movimento de independência da Escócia. Porém, recusa-se a opor-se a governos secularistas quando estes desafiam a lei divina e natural com medidas como a legalização de “uniões homossexuais”, uma questão de lei divina e natural na qual um Papa pode e deve intervir.

De fato, suas muitas condenações de males sociais — todos eles alvos politicamente seguros — são continuamente desmentidas por suas próprias ações, que comprometem o testemunho da Igreja contra os múltiplos erros da modernidade:

Contrariamente ao ensinamento constante da Igreja baseado na Revelação, V.S. exige a total abolição da pena de morte em todo o mundo, sem importar quão grave seja o crime, e até a abolição de prisões perpétuas, apesar de nunca ter pedido a abolição do aborto legalizado, que a Igreja tem condenado constantemente como o assassinato em massa de inocentes.

V.S. declara que os fiéis simples estão pecando gravemente se deixam de reciclar seu lixo caseiro e de desligar lâmpadas desnecessárias, ao mesmo tempo em que gasta milhões de dólares em eventos de massa vulgares em torno de sua pessoa em vários países, para os quais viaja com grandes comitivas em jatos fretados que emitem grandes quantidades de carbono na atmosfera.

V.S. exige fronteiras abertas na Europa para “refugiados” muçulmanos, predominantemente homens em idade militar, enquanto vive atrás das muralhas da cidade-estado do Vaticano que exclui estritamente não-residentes — muralhas construídas por Leão IV para evitar um segundo saque muçulmano a Roma.

V.S. fala incessantemente dos pobres e das “periferias” da sociedade, mas alia-se à opulenta e corrupta hierarquia alemã e a celebridades e potentados do globalismo que apoiam o aborto, a contracepção e o homossexualismo.

V.S. condena corporações gananciosas que buscam o lucro e “a economia que mata”, enquanto honra com audiências privadas os mais ricos tecnocratas e diretores de corporações, de quem recebe generosas doações, chegando até a permitir que a Porsche alugasse a Capela Sistina para um “magnífico concerto... preparado exclusivamente para os participantes,” que pagaram algo como $6.000 cada por um tour romano — a primeira vez que um Papa permitiu que esse espaço sagrado fosse usado para um evento corporativo.

V.S. exige um fim para a “desigualdade”, enquanto abraça ditadores comunistas e socialistas que vivem no luxo enquanto as massas sofrem sob seu jugo.

V.S. condena um candidato americano à presidência dizendo que ele “não é Cristão” porque busca prevenir imigração ilegal, mas não diz nada contra os ditadores ateus que abraça, que cometeram assassinato em massa, perseguem a Igreja e aprisionam cristãos em estados policiais.

Ao promover suas opiniões pessoais sobre políticas públicas como se fossem doutrina católica, V.S. não hesitou em abusar até da dignidade de uma

.

Parece que, em sua opinião, a tese herética de Karl Rahner sobre o “cristão anônimo”, envolvendo praticamente toda a humanidade e implicando na salvação universal, substituiu definitivamente o ensinamento contrário de Nosso Senhor: “O que crer, e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado (Mc 16,16).”

PARTE II

Um Encobrimento Absurdo do Islã

Assumindo o papel de exegeta do Corão para absolver o culto de Maomé de sua ininterrupta conexão histórica com a conquista e perseguição brutal de cristãos, V.S. declara: “Frente a episódios de fundamentalismo violento que nos preocupam, o afeto pelos verdadeiros crentes do Islã deve levar-nos a evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islã e uma interpretação adequada do Corão opõem-se a toda a violência.” [Evangelii Gaudium, 253]

V.S. ignora a história inteira da guerra islâmica contra a cristandade, que continua até hoje, assim como os atuais códigos legais bárbaros e a perseguição de cristãos nas repúblicas islâmicas do mundo, incluindo Afeganistão, Irã, Malásia, Maldivas, Mauritânia, Nigéria, Paquistão, Qatar, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iêmen. Esses são regimes de opressão intrínsecos à lei Sharia, que os muçulmanos acreditam Alá ordenou para o mundo inteiro, e que tentam estabelecer onde quer que se tornem uma porcentagem significativa da população. Entretanto, de acordo com a visão de V.S., todas as repúblicas islâmicas carecem de uma “adequada” interpretação do Corão!

V.S. ainda tenta minimizar o patente terrorismo islâmico no Oriente Médio, na África e no próprio coração da Europa ao ousar estabelecer uma equivalência moral entre fanáticos muçulmanos empreendo a jihad — como fazem desde o momento em que o Islã apareceu — e um “fundamentalismo” imaginário da parte dos católicos observantes que V.S. nunca cessa de condenar e insultar publicamente. Durante uma de suas desconexas conferências de imprensa a bordo de aviões, nas quais tem envergonhado tão frequentemente a Igreja e debilitado a doutrina católica, V.S. proferiu esta opinião infame, típica de sua insistência absurda de que a religião fundada por Deus Encarnado e o culto continuamente violento fundado pelo degenerado Maomé estão em pé de igualdade moral:

Eu não gosto de falar de violência islâmica, porque todo dia, quando olho os jornais, vejo violência, aqui na Itália... esse que matou sua namorada, aquele outro que matou sua sogra... e esses são católicos batizados! Há católicos violentos! Se falo de violência islâmica, tenho de falar de violência católica... creio que em toda religião há sempre um pequeno grupo de fundamentalistas. Fundamentalistas. Nós os temos.Quando o fundamentalismo quer matar, ele pode matar com a linguagem — o Apóstolo Tiago diz isso, não eu — e mesmo com uma faca, não? Não acredito que seja correto identificar o Islã com violência.

Desafia a credibilidade que um Romano Pontífice declare que crimes violentos aleatórios cometidos por católicos, e suas meras palavras, sejam moralmente equivalentes à campanha mundial de atos terroristas, assassinatos em massa, tortura, escravização e estupro do Islã radical em nome de Alá. Parece que V.S. é mais rápido em defender o culto ridículo e mortal de Maomé contra uma justa oposição do que em defender a Igreja verdadeira contra seus inúmeros falsos acusadores. A visão perene da Igreja sobre o Islã, expressa pelo Papa Pio XI em seu Ato de Consagração da Raça Humana ao Sagrado Coração, passa longe de sua mente: “Sede o Rei de todos aqueles que estão sepultados nas trevas da idolatria e do islamismo, e não recuseis conduzi-los todos à luz e ao Reino de Deus.”
 

Um “Sonho” Reformista Ajudado por um Punho de Ferro

De maneira geral, V.S. parece estar afligido por uma mania reformista que não conhece limites para seu “sonho” sobre como a Igreja deve ser. Como declarou em seu manifesto papal pessoal sem precedentes, Evangelii Gaudium (nn. 27, 49):

Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação....

Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6, 37).

De maneira inacreditável, V.S. professa que as “estruturas” e “normas” imemoriais da Santa Igreja Católica estavam cruelmente infligindo a fome e a morte espiritual antes que V.S. chegasse de Buenos Aires, e que agora V.S. deseja mudar literalmente tudo na Igreja para torná-la misericordiosa. Como os fiéis podem ver isso senão como um sinal de uma megalomania assustadora? V.S. chega a declarar que a evangelização, como a entende, não pode estar limitada pelo medo causado pela “autopreservação” da Igreja — como se essas duas coisas fossem de alguma forma opostas!

Seu sonho suave de reformar tudo é acompanhado por um punho de ferro que esmaga qualquer tentativa de restaurar a vinha já devastada por meio século de “reformas” inconsequentes. Porque, como revelou em seu manifesto (Evangelii Gaudium, 94), V.S. está cheio de desprezo pelos católicos de mentalidade tradicional, a quem acusa precipitadamente de “neopelagianismo auto-referencial e prometeico” e de sentir-se “superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado.”

V.S. chega a ridicularizar “uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar” porque, de acordo com V.S., isso “dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais...” Mas é V.S. que está constantemente classificando e analisando os outros com uma interminável sequência de termos pejorativos, caricaturas, insultos e condenações para com católicos observantes que considera insuficientemente atentos ao “Deus das surpresas” que V.S. apresentou durante o Sínodo.

Daí sua brutal destruição dos prósperos Frades Franciscanos da Imaculada, por conta de uma “tendência definitivamente tradicionalista.” Isso foi seguido por seu decreto impondo que, daqui em diante, qualquer tentativa de erigir um novo instituto diocesano de vida consagrada (por exemplo, para acomodar membros desgarrados dos Frades) será inválida e nula na falta de uma “consulta” prévia à Santa Sé (isto é, na falta de uma permissão de facto que pode ser e será retida indefinidamente). Assim V.S. diminui drasticamente a perene autonomia dos bispos em suas próprias dioceses, ao mesmo tempo em que prega uma nova era de “colegialidade” e “sinodalidade”.

Mirando os conventos de clausura, V.S. foi além e decretou medidas para obrigar a rendição de sua autonomia local a federações governadas por burocratas eclesiais, a quebra da rotina da clausura para que se faça “formação” externa, a intrusão de leigos na clausura para adoração eucarística, a ultrajante desqualificação da maioria votante do convento se elas forem “idosas”, e um requisito universal de nove anos de “formação” antes dos votos finais, o que certamente sufocará novas vocações e garantirá a extinção de muitas das clausuras remanescentes.

Deus nos ajude!

Uma Insistência Implacável em Acomodar a Imoralidade Sexual na Igreja

Mas nada excede a arrogância e a audácia com que V.S. tem buscado implacavelmente a imposição sobre a Igreja universal das mesmas práticas perversas que autorizou como Arcebispo de Buenos Aires: a administração sacrílega do Santíssimo Sacramento a pessoas vivendo em segundas uniões adúlteras ou coabitando sem nem mesmo o benefício de uma cerimônia civil.

Desde quase o momento de sua eleição, V.S. promoveu a “proposta de Kasper”rejeitada repetidamente pelo Vaticano sob João Paulo II. O Cardeal Kasper, um ultraliberal mesmo em meio à liberal hierarquia alemã, tem há muito defendido a admissão de pessoas divorciadas e “recasadas” à Sagrada Comunhão em “certos casos”, de acordo com um fictício “caminho penitencial” que as admitiria ao Sacramento, ainda que continuassem com suas relações sexuais adúlteras. Kasper pertenceu ao “Grupo de Saint Gallen”, que fez lobby pela sua eleição, e posteriormente teve sua persistência no erro regiamente recompensada por V.S., com a imprensa apelidando-o alegremente de “o teólogo do Papa”.


V.S. começou preparando o caminho para sua inovação destrutiva com um expediente que só pode ser chamado de invenção de slogans demagógicos. Como seu manifesto (Evangelii Gaudium, 47) declarou em novembro de 2013: “A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores.”


Esse apelo flagrante à emoção caricaturiza a digna recepção do Santíssimo Sacramento em estado de graça como “um prêmio para os perfeitos”, enquanto insinua de maneira sediciosa que a Igreja tem por muito tempo privado “os fracos” do “alimento” eucarístico. Daí sua acusação igualmente demagógica de que os ministros sagrados da Igreja têm agido cruelmente “como controladores da graça e não como facilitadores” ao negar a Sagrada Comunhão aos “fracos” dando preferência aos “perfeitos,” e que V.S. tem de remediar essa injustiça com “audácia.”

Mas, é claro, a Sagrada Eucaristia não é “alimento” ou “remédio” para apagar o pecado mortal. Bem ao contrário, sua recepção consciente naquele estado é uma profanação mortal para a alma e, assim, causa de danação: “Portanto, todo aquele que comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se pois a si mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque todo aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não discernindo o corpo do Senhor (1Cor 11, 27-29).”

Como qualquer criança devidamente catequizada sabe, a Confissão é o remédio pelo qual o pecado mortal é apagado, enquanto a Eucaristia (ajudada pelo recurso regular à Confissão) é o alimento espiritual para manter e aumentar o estado de graça que se segue à absolvição, para que não se caia em pecado mortal novamente, mas, em vez disso, se cresça na comunhão com Deus. Mas parece que o próprio conceito de pecado mortal está ausente do conjunto de seus documentos formais, discursos, comentários e pronunciamentos.

Eliminando qualquer dúvida sobre seus planos, apenas alguns meses depois, no “consistório extraordinário sobre a família”, V.S. organizou as coisas para que nenhum outro senão o Cardeal Kasper fosse o único palestrante oficial. Durante seu discurso de duas horas em 20 de fevereiro de 2014 — que V.S. quis que permanecesse em segredo, mas que foi vazado para a imprensa italiana como um documento “secreto” e “exclusivo” — Kasper apresentou sua proposta insana de admitir à Sagrada Comunhão certas pessoas que vivem em adultério público, aludindo diretamente a seu slogan: “os sacramentos não são um prêmio para os que se comportam bem ou para uma elite, excluindo aqueles que mais precisam [EG47].” Desde então, V.S. não vacilou em sua determinação de institucionalizar na Igreja o grave abuso da Eucaristia que permitiu em Buenos Aires.

A esse respeito, parece que V.S. tem pouca consideração para com o matrimônio sacramental como um fato objetivo, valorizando, em vez disso, o que as pessoas sentem subjetivamente sobre o status de relações imorais que a Igreja jamais poderá reconhecer como matrimônio. Num comentário que, por si só, desacreditará seu bizarro pontificado até o fim dos tempos, V.S. declarou que “a grande maioria de nossos matrimônios sacramentais são nulos”, enquanto que certas pessoas que coabitam sem serem casadas podem ter um “verdadeiro matrimônio” por causa de sua “fidelidade.” Será esse comentário porventura uma reflexão baseada no fato de sua irmã ser divorciada e “recasada” e seu sobrinho viver em coabitação?

Essa opinião, que um renomado canonista corretamente chamou de “absurda”, provocou protestos mundo afora entre os fiéis. Num esforço para minimizar o escândalo, a “transcrição oficial” do Vaticano alterou suas palavras de “grande maioria de nossos matrimônios sacramentais” para “uma parte de nossos matrimônios sacramentais”, mas deixou intacta sua vergonhosa aprovação de coabitações imorais como sendo “verdadeiros matrimônios”.

V.S. também não parece preocupado com o sacrilégio envolvido no fato de pessoas em situação de adultério público e vivendo em coabitação receberem o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo na Santíssima Eucaristia. Como disse para a mulher na Argentina a quem deu “permissão” pelo telefone para receber a Comunhão, ainda que vivendo em adultério com um homem divorciado: “Um pouco de pão e vinho não fazem mal algum.” V.S. nunca negou o relato da mulher, e este seria bastante consistente com sua recusa de se ajoelhar na Consagração ou diante do Santíssimo Sacramento exposto, mesmo que não tenha qualquer dificuldade de se ajoelhar para beijar os pés de muçulmanos durante sua grotesca paródia do tradicional mandatum da Quinta-feira Santa, que V.S. abandonou. Seria também compatível com seus comentários para uma mulher luterana, na igreja luterana em que V.S. foi num domingo, de que o dogma da transubstanciação é uma mera “interpretação”, que “a vida é maior do que explicações e interpretações,” e que ela deveria “conversar com o Senhor” para saber se deveria receber ou não a Comunhão numa igreja católica — o que depois ela fez, seguindo seu evidente encorajamento.

Alinhada com sua limitada consideração para com o matrimônio sacramental está sua “reforma” intempestiva e secreta do processo de declaração de nulidade, que V.S. impingiu sobre a Igreja sem consultar quaisquer dos dicastérios competentes no Vaticano. Seu Motu Proprio Mitis Iudex Dominus Iesus estabelece a estrutura para uma verdadeira fábrica de declarações de nulidade em todo o mundo, com um procedimento acelerado e novas bases nebulosas para agilizar os procedimentos de declaração de nulidade. Como explicou depois o chefe de sua reforma clandestinamente maquinada, sua intenção expressa é promover entre os bispos “uma ‘conversão’, uma mudança de mentalidade que os convença e sustente no seguimento do convite de Cristo, presente em seu irmão, o Bispo de Roma, a avançar de um restrito número de alguns milhares de declarações de nulidade para alcançar aquele número imensurável de desafortunados que poderiam ter uma declaração de nulidade...”

Assim, o “Bispo de Roma” exige de seus companheiros bispos um grande aumento no número de declarações de nulidade! Um distinto jornalista católico reportou depois o aparecimento de um dossiê de sete páginas em que oficiais da cúria “‘destrincharam’ juridicamente o motu proprio do Papa... acusam o Santo Padre de desconsiderar um importante dogma, e afirmam que ele introduziu o ‘divórcio católico’ de facto.” Esses oficiais deploraram o que esse jornalista descreve como “um ‘Führerprinzip’ eclesial, um comando de cima para baixo, por decreto e sem qualquer consulta ou conferências.” Os mesmos oficiais temem que “o motu proprio vá levar a uma enxurrada de declarações de nulidade e que, de agora em diante, casais seriam capazes de simplesmente largar seu matrimônio católico sem qualquer problema.” Eles estão “‘fora de si’ e sentem-se obrigados a ‘falar com clareza’...”

Mas não se pode dizer que V.S. não é consistente ao perseguir seus objetivos. No começo de seu pontificado, durante uma das conferências de imprensa a bordo de um avião na qual revelou seus planos pela primeira vez, V.S. declarou: “Os ortodoxos seguem a teologia da economia, como a chamam, e dão uma segunda chance de casamento [sic]. Eles permitem. Creio que esse problema tem de ser estudado.” Para V.S., a falta de uma “segunda chance de casamento” na Igreja Católica é um problema a ser estudado. V.S. gastou claramente os últimos três anos e meio lutando para impor sobre a Igreja algo parecido com a prática dos ortodoxos.

Um distinto canonista, consultor da Signatura Apostolica, alertou que como resultado de seu temerário descuido pela realidade do matrimônio sacramental:

uma crise (no sentido grego da palavra) sobre o matrimônio está se desenvolvendo na Igreja, e é uma crise, assim avalio, que chegará a seu clímax no que diz respeito à lei e à disciplina matrimoniais.... Acho que a crise no matrimônio que ele [Francisco] está ocasionando chegará ao ponto de questionar se o ensinamento da Igreja sobre o matrimônio, que todos professam honrar, estará concreta e efetivamente protegido na lei da Igreja, ou, se as categorias canônicas que tratam da doutrina do matrimônio tornaram-se tão distorcidas (ou simplesmente desconsideradas) a ponto de essencialmente deixarem o matrimônio e a vida matrimonial por conta da opinião pessoal e da consciência individual.

Amoris Laetitia: O Motivo Real para o Sínodo Fraudulento

Aquela crise chegou ao seu pico após a conclusão de seu desastroso “Sínodo sobre a Família.” Apesar de V.S. ter manipulado esse evento do começo ao fim para obter os resultados que desejava — Sagrada Comunhão para adúlteros públicos em “certos casos” — ele ficou aquém de suas expectativas por causa da oposição dos padres sinodais conservadores, que V.S. demagogicamente denunciou como “corações fechados que frequentemente se escondem mesmo por detrás dos ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas.”

Num brutal abuso de retórica, V.S. associou seus oponentes episcopais fiéis à doutrina aos fariseus, que praticavam o divórcio e o “segundo casamento” de acordo com a dispensa mosaica. Aqueles tinham sido os mesmos bispos que defenderam o ensinamento de Cristo contra os fariseus — e contra os próprios desígnios de V.S.! De fato, parece ser sua intenção reviver uma aceitação farisaica do divórcio por meio de uma “prática neo-mosaica.” Um renomado jornalista católico, conhecido por sua postura moderada na análise de assuntos da Igreja, protestou contra seu comportamento repreensível: “É bizarro que um papa critique aqueles que permanecem fiéis àquela tradição e os caracterize como cruéis de alguma forma, associando-os aos fariseus de coração duro contra o Jesus misericordioso.”

No fim, o “caminho sinodal” que V.S. enalteceu revelou-se como nada além de uma fraude para ocultar a conclusão já prevista de sua espantosa “Exortação Apostólica” Amoris Laetitia. Nela, seus autores ocultos, principalmente no Capítulo Oito, usam de ambiguidade habilidosa para abrir as portas da Sagrada Comunhão para adúlteros públicos, reduzindo a lei natural que proíbe o adultério a uma “regra geral” para a qual pode haver exceções para quem tenha “grande dificuldade em compreender ‘os valores inerentes à norma’” ou esteja vivendo “em condições concretas que não lhe permitem agir de maneira diferente... (¶¶ 2, 301, 304)” Amoris é uma tentativa transparente de fazer passar clandestinamente uma forma reduzida de ética situacional em questões de moralidade sexual, como se o erro pudesse ser assim restringido.

Sua evidente obsessão em legitimar a Sagrada Comunhão para adúlteros públicos levou-o a desafiar o ensinamento moral constante da Igreja e sua disciplina sacramental intrinsecamente relacionada a ele, afirmados por ambos seus predecessores imediatos. Aquela disciplina é baseada no ensinamento do próprio Nosso Senhor sobre a indissolubilidade do matrimônio, assim como no ensinamento de São Paulo sobre a punição divina devida à recepção indigna da Sagrada Comunhão. Para citar João Paulo II a esse respeito:

A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio.

A reconciliação pelo sacramento da penitência que abriria o caminho ao sacramento eucarístico pode ser concedida àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimônio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios quais, por exemplo, a educação dos filhos não se podem separar, “assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cônjuges.” [Familiaris Consortio, n. 84]

V.S. ignorou os apelos mundiais de padres, teólogos e filósofos morais, associações e jornalistas católicos, e até de uns poucos prelados corajosos no meio de uma hierarquia ao contrário silenciosa, para se retratar ou “esclarecer” as ambiguidades tendenciosas e os erros claros de Amoris, particularmente no Capítulo Oito.

Um Grave Erro Moral Agora Explicitamente Aprovado


E agora, indo além do uso desonesto da ambiguidade, V.S. autorizou explicitamente nos bastidores aquilo que tolerou ambiguamente em público. O esquema foi trazido à luz com o vazamento de sua carta “confidencial” aos bispos da região pastoral de Buenos Aires — onde, como Arcebispo, V.S. já havia autorizado o sacrilégio em massa nos bairros pobres.


Nessa carta, V.S. elogia o documento dos bispos sobre “Critérios Básicos para Aplicação do Capítulo Oito de Amoris Laetitia” — como se houvesse alguma obrigação de “aplicar” o documento para produzir uma mudança na disciplina sacramental bimilenar da Igreja. Escreve V.S.: “O escrito é muito bom e explicita cabalmente o sentido do capítulo VIII de Amoris Laetitia. Não há outras interpretações.” Será coincidência que esse documento venha da mesma arquidiocese onde, como Arcebispo, V.S. tenha desde há muito autorizado a admissão de pessoas vivendo em adultério público e coabitação à Sagrada Comunhão?


O que antes estava apenas implícito agora se torna claramente explícito, e aqueles que insistiam que Amoris não mudava nada foram feitos de tolos. O documento que V.S. elogia agora como a única interpretação correta de Amoris debilita a doutrina e a prática da Igreja, defendidas por seus predecessores. Em primeiro lugar, reduz a uma “opção” o imperativo moral de que casais divorciados e em segunda união assumam “a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cônjuges.” De acordo com os bispos de Buenos Aires — com sua aprovação — apenas se “pode propor o empenho de viver em continência. Amoris Laetitia não ignora as dificuldades dessa opção.”

Como a Congregação para a Doutrina da Fé declarou definitivamente há apenas 18 anos durante o reinado do próprio Papa que V.S. canonizou: “se o matrimônio prévio de dois fiéis divorciados e em segunda união foi válido, sob nenhuma circunstância sua nova união pode ser considerada legítima e, portanto, a recepção dos sacramentos é intrinsecamente impossível. A consciência do indivíduo está vinculada a essa norma sem exceção.” Esse é o ensinamento constante da Igreja Católica por dois milênios.

Além disso, nenhum pároco ou nem mesmo um bispo têm o poder de reconhecer, no chamado “foro interno”, a pretensão de alguém que viva em adultério de que sua “consciência” lhe diz que seu matrimônio sacramental foi realmente inválido, porque, como a CDF adverte posteriormente, “já que o matrimônio tem caráter eclesial público e aplica-se o axioma nemo iudex in propria causa (ninguém é juiz em sua própria causa), situações conjugais têm de ser resolvidas no foro externo. Se fiéis divorciados e em segunda união creem que seu matrimônio prévio foi inválido, eles estão por isso obrigados a apelar ao tribunal matrimonial competente para que a questão seja examinada objetivamente e sob todas as possibilidades jurídicas possíveis.”

Ao reduzir uma norma moral sem exceções, radicada na Revelação divina, a uma opção, os bispos de Buenos Aires, citando Amoris como sua única autoridade em 2.000 anos de ensinamento da Igreja, declaram em seguida: “Em outras circunstâncias mais complexas, e quando não se pode obter uma declaração de nulidade, a opção mencionada pode não ser de fato viável.” Uma norma moral universal é assim relegada à categoria de uma mera diretriz a ser descartada se um pároco local considerá-la “inviável” em certas “circunstâncias mais complexas” indefinidas. O que são essas “circunstâncias mais complexas” e o que “complexidade” tem a ver com normas morais sem exceção fundadas na Revelação?

Finalmente os bispos chegam à desastrosa conclusão que V.S. tem planejado impor sobre a Igreja desde o começo da “caminhada sinodal”:

Não obstante, igualmente é possível um caminho de discernimento. Se se chega a reconhecer que, num caso concreto, há limitações que atenuam a responsabilidade e a culpabilidade (cf. 301-302), particularmente quando uma pessoa considera que cairia numa falta ulterior prejudicando os filhos da nova união, Amoris Laetitia abre a possibilidade do acesso aos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (cf. notas 336 e 351). Isso por sua vez dispõe a pessoa a seguir amadurecendo e crescendo com a força da graça.

Com seu elogio e aprovação, os bispos de Buenos Aires declaram pela primeira vez na história da Igreja que certas pessoas de uma classe vagamente definida, vivendo em adultério, podem ser absolvidas e receber a Sagrada Comunhão enquanto permanecem naquele estado. As consequências são catastróficas.

PARTE III

Uma “Prática Pastoral” em Guerra com a Doutrina

V.S. aprovou como única interpretação correta de Amoris um cálculo moral que, na prática, minaria toda a ordem moral, não apenas as normas de moralidade sexual que V.S. obviamente busca subverter. É que a aplicação de praticamente qualquer norma moral pode ser considerada “inviável” por uma invocação talismânica de “circunstâncias mais complexas” a serem “discernidas” por um padre ou bispo na “prática pastoral”, enquanto a norma é piedosamente defendida como inalterada e inalterável como “regra geral”.

O critério nebuloso de “limitações que atenuam a responsabilidade e a culpabilidade” poderia ser aplicado a qualquer forma de pecado mortal habitual, incluindo coabitação — que V.S. já associou a “matrimônio verdadeiro” — “uniões homossexuais” — a cuja legalização V.S. tem se recusado a se opor — e contracepção, que, incrivelmente, V.S. declarou ser moralmente permissível para prevenir a transmissão de doenças, o que o Vaticano depois confirmou ser de fato sua opinião.

Assim a Igreja iria, “em certos casos”, contradizer na prática aquilo que ensina em princípio em relação à moralidade, significando que o princípio moral está praticamente derrubado. Em meio ao sínodo fraudulento, mas sem mencionar V.S., o Cardeal Robert Sarah condenou corretamente essa capciosa disjunção entre preceitos morais e sua “aplicação prática”: “A ideia que consistiria em colocar o Magistério numa bela caixa separando-o da prática pastoral — que poderia evoluir de acordo com as circunstâncias, novidades e paixões — é uma forma de heresia, uma perigosa patologia esquizofrênica.”

Porém, de acordo com V.S., baseado em “discernimento” de padres ou ordinários locais, certas pessoas vivendo numa condição objetiva de adultério podem ser consideradas subjetivamente inculpáveis e admitidas à Sagrada Comunhão sem qualquer compromisso com uma vida corrigida, mesmo sabendo que a Igreja ensina que seu relacionamento é adúltero. Numa entrevista recente, o renomado filósofo austríaco Josef Seifert, amigo do Papa João Paulo II e um dos muitos críticos de Amoris, cujas súplicas privadas pela correção ou retratação do documento V.S. tem ignorado, observou publicamente a absurdidade moral e pastoral daquilo que agora V.S. aprova explicitamente:

Como aplicar isso? O padre deveria dizer a uma pessoa adúltera: “Você é um bom adúltero, está em estado de graça, é uma pessoa muito piedosa, então tem minha absolvição sem precisar mudar de vida e pode ir até a Sagrada Comunhão.” E então vem outro e ele [o padre] diz: “Oh, você é um adúltero de verdade. Você precisa se confessar primeiro. Precisa emendar sua vida. Precisa mudar de vida e então pode comungar.”

Quero dizer, como isso vai funcionar?.... Como um padre pode ser um juiz da alma e dizer que um é pecador de verdade e outro um inocente, um bom homem? Isso parece completamente impossível. Apenas um padre que tivesse um tipo de visão das almas como a do Padre Pio seria capaz de dizer isso, e ele [Padre Pio] não diria isso....

Com seu elogio e aprovação, os bispos de Buenos Aires chegam a sugerir que os filhos seriam prejudicados se seus pais divorciados e em segunda união fossem proibidos de continuar a ter relações sexuais fora do casamento enquanto profanam o Santíssimo Sacramento. Um defensor casuístico de seu afastamento da sã doutrina conjectura que isso significa que, quando um parceiro em adultério está sendo “coagido” a continuar a ter relações sexuais adúlteras, sob a ameaça do outro parceiro de abandonar os filhos a não ser que obtenha satisfação sexual, o adultério é apenas um pecado venial. De acordo com essa lógica moral, qualquer pecado mortal, incluindo o aborto, se tornaria venial meramente porque uma parte ameaça romper um relacionamento adúltero se o pecado não for cometido.

Pior ainda, como se fosse possível, os bispos de Buenos Aires, apoiando-se apenas nas novidades de V.S., ousam sugerir que pessoas que continuam habitualmente a ter relações sexuais adúlteras crescerão em graça enquanto recebem de forma sacrílega a Sagrada Comunhão.

V.S. criou assim não uma mera “mudança de disciplina”, mas uma mudança radical na doutrina moral subjacente, que institucionalizará efetivamente uma forma de ética situacional na Igreja, reduzindo preceitos morais objetivos, universalmente vinculantes, a meras regras gerais em relação às quais haverá inúmeras “exceções” subjetivas baseadas em “circunstâncias mais complexas” e “limitações” que supostamente reduziriam pecados mortais habituais a pecados veniais ou mesmo a meras faltas que não trariam qualquer impedimento à Sagrada Comunhão.

Mas Deus Encarnado não admitiu quaisquer exceções ao decretar com Sua divina autoridade: “Todo o que larga sua mulher, e casa com outra, comete adultério: e o que casa com a que foi repudiada de seu marido, comete adultério (Lc 16,18).” Todo.

Além disso, como a Congregação para a Doutrina da Fé, sob João Paulo II, declarou ao rejeitar a “proposta de Kasper”, que tem sido claramente a proposta de V.S. durante todo esse tempo: “Essa norma [excluir pessoas em adultério público dos sacramentos] não é de forma alguma uma punição ou discriminação contra os divorciados em segunda união, mas antes expressa uma situação objetiva que em si mesma tonar impossível a recepção da Sagrada Comunhão.”

Isto é, a Igreja jamais pode permitir que os que vivem em adultério sejam tratados como se suas uniões imorais fossem matrimônios válidos, mesmo se os parceiros em adultério reivindicam de maneira implausível uma inculpabilidade subjetiva, ao mesmo tempo em que conscientemente vivem em violação do ensinamento infalível da Igreja. Porque o escândalo resultante corroeria e acabaria por arruinar a fé das pessoas tanto na indissolubilidade do matrimônio quanto na Presença Real de Cristo na Eucaristia. Com sua plena aprovação, entretanto, os bispos de Buenos Aires rejeitaram a advertência de João Paulo II na Familiaris Consortio de que “se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio.”

Neste exato momento na história da Igreja, entretanto, é V.S. que está levando os fiéis a “erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio.” De fato, V.S. está tão determinado a impor sua vontade errante sobre a Igreja, que em Amoris (n. 303) ousa sugerir que o próprio Deus aceita as constantes relações sexuais dos divorciados em segunda união se estes não podem fazer nada melhor em suas circunstâncias “complexas:”

Mas esta consciência pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objetivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que esta é a doação que o próprio Deus está a pedir no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objetivo.

Ao aprovar explicitamente a Sagrada Comunhão para certos adúlteros públicos, em sua carta para Buenos Aires, V.S. também enfraquece a capacidade de bispos mais conservadores manterem o ensinamento tradicional da Igreja. Como poderão bispos nos Estados Unidos, Canadá e Polônia, por exemplo, continuar a insistir na disciplina bimilenar da Igreja, intrinsecamente conectada com a verdade revelada, quando V.S. dispensou-a em Buenos Aires com a autoridade de sua “exortação apostólica”? Em que bases eles se sustentarão contra um enxame de objeções, agora que V.S. removeu o chão da Tradição de sob os pés deles?

Em resumo, após anos de ardilosa ambiguidade em relação à situação de pessoas vivendo em adultério público com respeito à Confissão e à Sagrada Comunhão, V.S., também ardilosamente, declara agora a suposta derrubada da doutrina e da prática da Igreja usando uma carta “confidencial” que devia saber que seria vazada, enviada em resposta a um documento de Buenos Aires que V.S. bem pode ter solicitado como parte do processo que vem guiando desde que o fraudulento “Sínodo sobre a Família” foi anunciado.

Como o autor e intelectual católico Antonio Socci escreveu: “É a primeira vez na história da Igreja que um Papa coloca a sua assinatura em uma reversão da lei moral.” Nenhum Papa anterior jamais havia perpetrado tal ultraje.

“Exceções” à Lei Moral Não Podem Ser Confinadas

É bastante curioso, entretanto, que seu novo cálculo moral não pareça se aplicar a outros pecados que V.S. condena constantemente, ainda que observando cuidadosamente os limites do politicamente correto. Em nenhum lugar, por exemplo, V.S. indica que “circunstâncias mais complexas” ou “limitações que atenuam a responsabilidade e a culpabilidade” desculpariam os mafiosos que V.S. “excomungou” retoricamente en masse e a quem alertou sobre o Inferno, os ricos que condena como “sanguessugas” ou mesmo os católicos observantes que acusa grotescamente do “pecado de adivinhação” e do “pecado de idolatria” porque eles não aceitarão “as surpresas de Deus” — isto é, as novidades de V.S.

Seu pontificado inteiro parece estar centrado em declarar uma anistia apenas para os pecados da carne, justamente aqueles que, como Nossa Senhora de Fátima alertou, mandam mais almas para o inferno do que qualquer outro. Mas o que lhe faz pensar que o gênio moral que V.S. deixou fora da garrafa, e que chama de “Deus das surpresas”, pode ser confinado apenas àqueles preceitos morais que V.S. considera de aplicação exageradamente rígida? Criar exceções a um preceito moral que não admite exceções significa efetivamente desfazer todos eles. Sua novidade ataca as fundações da Fé e ameaça demolir o edifício moral inteiro da Igreja “como um castelo de cartas” — o mesmo resultado que V.S. acusa os católicos observantes de promoverem por conta de seu suposto “rigorismo” e apego a “regras mesquinhas.”

Mas V.S. não se dá conta dessas consequências óbvias. Ao ser perguntado sobre como lida com a oposição de “ultraconservadores” — isto é, bispos e cardeais que apenas são fiéis à doutrina V.S. respondeu com a arrogância despreocupada que é marca característica de seu governo da Igreja: “Eles fazem o trabalho deles, eu faço o meu. Eu quero uma Igreja que seja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas. Eles dizem não para tudo. Eu sigo em frente, sem olhar para trás.”

Numa surpreendente amostra de desprezo arrogante pela Igreja da qual foi eleito chefe, V.S. ousou dizer: “É porque a própria Igreja algumas vezes segue uma linha dura, cai na tentação de seguir uma linha dura, na tentação de enfatizar apenas as regras morais, que muitas pessoas são excluídas.”

Nunca antes um Papa havia declarado que iria pessoalmente corrigir a falta de abertura e de compreensão da Igreja e sua “tentação” de seguir uma “linha dura” sobre moralidade a ponto de “excluir” pessoas. Esses pronunciamentos perturbadoramente arrogantes dão origem à distinta impressão de que sua inesperada eleição representa quase um desenvolvimento apocalíptico.

Ignorando Todas as Súplicas, V.S. Segue Adiante com Sua “Revolução”

Enquanto segue com sua obra de destruição, V.S. tem ignorado toda súplica privada que lhe é endereçada, incluindo inúmeros pedidos para que afirme que Amoris Laetitia não se desvia do ensinamento anterior, e também um documento preparado por um grupo de estudiosos católicos que identificaram proposições heréticas e errôneas em Amoris e apelaram para que V.S. as condenasse e retirasse. É evidente que V.S. não tem qualquer intenção de aceitar correção fraterna de ninguém, nem mesmo de cardeais que têm pedido que V.S. “esclareça” a conformidade de seu ensinamento com o Magistério infalível.

Pelo contrário, quanto mais alarmados ficam os fiéis, mais audaciosamente V.S. age. Dando continuidade a seu relaxamento programático na prática do ensinamento moral da Igreja em relação a sexualidade, V.S. autorizou o Conselho Pontifício para a Família a publicar a primeira cartilha para “educação sexual” em sala de aula já promulgada pela Santa Sé. Uma das associações de fiéis leigos que tem se levantado em defesa da família em face do silêncio geral da hierarquia ante sua investida de novidades dissolventes publicou um resumo dessa terrível cartilha, que viola descaradamente o ensinamento constante da Igreja contra qualquer forma de “educação sexual” explícita em sala de aula:

• Entrega a formação sexual das crianças aos educadores, deixando os pais de fora da equação.

• Não nomeia nem condena comportamentos sexuais como fornicação, prostituição, adultério, sexo com contraceptivos, atividade homossexual e masturbação como ações objetivamente pecaminosas que destroem a caridade no coração e levam as pessoas para longe de Deus.

• Não alerta os jovens sobre a possibilidade de separação eterna de Deus (danação) por cometer pecados sexuais graves. O Inferno não é mencionado nem uma vez.

• Não distingue entre pecado mortal e venial.

• Não fala sobre o 6º e o 9º mandamentos, ou sobre qualquer outro mandamento.

• Não ensina sobre o sacramento da Confissão como uma forma de restaurar o relacionamento com Deus após cometer um pecado grave.

• Não menciona um saudável sentimento de vergonha quando se trata do corpo e da sexualidade.

• Ensina a meninos e meninas na mesma sala.

• Orienta que meninos e meninas compartilhem juntos em sala de aula seu entendimento de frases como: “O que a palavra sexo sugere para você?”

Pede a uma turma mista que “indique onde a sexualidade está localizada em meninos e meninas.”

Fala sobre o “processo de excitação”.

• Usa imagens sexualmente explícitas e sugestivas em exercícios de atividades (aqui, aqui e aqui).

Recomenda vários filmes sexualmente explícitos como pontos de partida para discussão....

• Não fala do aborto como gravemente errado, mas apenas que causa “grande dano psicológico.”

• Confunde os jovens ao usar frases como “relacionamento sexual” para indicar não o ato sexual, mas um relacionamento focado na pessoa inteira.

Fala de “heterossexualidade” como algo a ser “descoberto.”

• Usa uma celebridade “gay” como exemplo de uma pessoa talentosa e famosa.

• Endossa o paradigma do “ficar” como um passo em direção ao matrimônio.


• Não enfatiza o celibato como a forma suprema de autodoação que constitui o próprio significado da sexualidade humana.

• Não menciona o ensinamento de Cristo sobre o matrimônio.

A mesma associação observa que a cartilha “viola normas previamente promulgadas pelo mesmo conselho pontifício.” Outra associação leiga protesta que a cartilha “faz frequente uso de imagens sexualmente explícitas e moralmente questionáveis, não identifica claramente nem explica a doutrina católica a partir de fontes elementares incluindo os Dez Mandamentos e o Catecismo da Igreja Católica e compromete a inocência e a integridade das crianças sob o correto cuidado de seus pais.” Líderes leigos no movimento pró-família católico denunciaram-na corretamente como “completamente imoral,” “inteiramente inapropriada,” e “bastante trágica.” Como um deles declarou: “Os pais não devem ter qualquer ilusão: o pontificado do Papa Francisco marca a rendição das autoridades do Vaticano à revolução sexual mundial e ameaça diretamente seus próprios filhos.

Mas esse distanciamento radical do ensinamento e prática anteriores apenas mantém a linha das novidades de Amoris, que diz “sim à educação sexual” em “instituições educativas”, enquanto ignora completamente o ensinamento tradicional da Igreja de que os pais, não os professores em sala de aula, têm a responsabilidade primária de prover qualquer instrução necessária a seus filhos nessa área tão sensível, tomando cuidado para não “descer a particularidades”, mas sabendo antes “usar daqueles remédios que, produzindo um duplo efeito, inoculam a virtude da castidade e fecham a entrada ao vício.”

Sua “revolução” está longe de ser confinada a questões sexuais, entretanto. V.S. recentemente também reuniu uma comissão, incluindo seis mulheres, para “estudar” a questão das “diaconisas”, que já foi estudada por uma comissão do Vaticano em 2002. Aquela comissão concluiu que o diaconato pertence ao estado clerical ordenado juntamente com o presbiterado e o episcopado, e que as chamadas “diaconisas” na Igreja primitiva não eram ministras ordenadas, mas apenas ajudantes eclesiais sem autoridade maior do que a de freiras, que realizavam serviços limitados próprios para mulheres, mas certamente não batismos ou matrimônios. As “diaconisas” que V.S. parece contemplar não seriam assim mais do que mulheres disfarçadas em trajes clericais, já que mulheres não podem receber qualquer grau do Sacramento das Sagradas Ordens.

À medida que continua a enfraquecer o respeito pela absoluta seriedade e caráter sobrenatural do matrimônio sacramental, parece que V.S. está se preparando para enfraquecer ainda mais o respeito já drasticamente diminuído pelo sacerdócio masculino. O que vem em seguida? Talvez um “relaxamento” da tradição apostólica do celibato sacerdotal, que V.S. já declarou estar “na minha agenda”.

E agora, enquanto sua “revolução” continua a acelerar, V.S. se prepara para partir para a Suécia em Outubro, onde participará de um “culto de oração” conjunto com um “bispo” luterano casado, chefe da Federação Luterana Mundial pró-aborto e pró-“casamento gay”, para “comemorar” a chamada Reforma lançada por Martinho Lutero.

É inconcebível que um Romano Pontífice vá honrar a memória desse maníaco, o herege mais destrutivo da história da Igreja, que despedaçou a unidade da Cristandade e abriu caminho para a violência e o derramamento de sangue sem fim e para o colapso dos costumes através da Europa. Como Lutero vergonhosamente declarou: “Se eu conseguir acabar com a Missa, então creio que terei dominado completamente o Papa. Se o costume sacrílego e amaldiçoado da Missa for derrubado, então tudo o mais cairá.” É supremamente irônico que o arqui-herege que V.S. pretende honrar com sua presença tenha pronunciado aquelas palavras numa carta a Henrique VIII, que levou toda a Inglaterra ao cisma porque o Papa não quis acomodar-se ao seu desejo de divórcio e “segundo casamento”, incluindo acesso aos sacramentos.

Precisamos Opor-nos a Vossa Santidade

Nesse ponto em seu tumultuoso mandato como “Bispo de Roma”, está além de qualquer dúvida razoável que sua presença na Sé de Pedro representa um perigo claro e presente para a Igreja. Em vista desse perigo, temos de perguntar:

V.S. não está minimamente preocupado com o escândalo e a confusão que suas palavras e feitos têm causado em relação à missão salvífica da Igreja e seu ensinamento sobre fé e moral, particularmente na área do matrimônio, da família e da sexualidade?

Nunca lhe ocorreu que o interminável aplauso do mundo para “a revolução de Francisco” é precisamente o mau presságio sobre o qual Nosso Senhor alertou?: “Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam aos falsos profetas os pais deles (Lc 6,26).”

V.S. não tem qualquer senso de alarme sobre as divisões que tem provocado dentro da Igreja, com alguns bispos se desviando do ensinamento de seus predecessores sobre os divorciados em segunda união, baseados apenas em sua suposta autoridade, enquanto outros tentam manter a doutrina e prática bimilenares que V.S. tem trabalhado sem cessar para derrubar?

V.S. não pensa nada sobre as inúmeras comunhões sacrílegas que resultarão de sua autorização da Sagrada Comunhão para pessoas que vivem objetivamente em adultério público e em outras “situações irregulares”, que V.S. já permitiu en masse como Arcebispo de Buenos Aires?

V.S sequer reconhece que a recepção da Sagrada Comunhão por pessoas que vivem em adultério é uma profanação, uma ofensa direta contra “o Corpo do Senhor (1Cor 11,29)”, merecedora de danação, assim como um escândalo público que ameaça a fé de outros, como tanto Bento XVI quanto João Paulo II insistiram, alinhados com todos os seus predecessores?

V.S. realmente pensa que tem o poder de decretar exceções “misericordiosas” em “certos casos” para preceitos morais divinamente revelados, de forma a satisfazer sua noção pessoal de “inclusão”, sua evidentemente benigna visão do divórcio e da coabitação e sua falsa noção do que chama de “caridade pastoral” em sua carta aos bispos de Buenos Aires? Como se fosse pouco caridoso exigir que adúlteros e fornicadores cessem suas relações sexuais imorais antes de tomarem parte no Santíssimo Sacramento!

V.S. não tem respeito pelo ensinamento em contrário de todos os Papas que lhe precederam?

Enfim, V.S. não teme o Senhor e Seu julgamento, que constantemente minimiza ou nega em seus sermões e comentários espontâneos, chegando a declarar — exatamente ao contrário do Credo — que “o Bom Pastor... não procura julgar, mas amar”?

Temos de concordar com a avaliação do jornalista católico acima mencionado, a respeito de sua insana insistência em dar a Sagrada Comunhão para pessoas em relações sexuais imorais: “Toda esta questão é bizarra. Não há palavra melhor.” Além disso, entretanto, todo seu bizarro pontificado tem dado origem a uma situação que a Igreja nunca viu antes: um ocupante da Sé de Pedro cujos comentários, pronunciamentos e decisões são golpes na integridade da Igreja contra os quais os fiéis têm de se proteger constantemente. Como o mesmo escritor conclui: “Digo isso com tristeza, mas temo que o restante deste papado seja marcado por dissensões, acusações de heresia papal, ameaças – e talvez efetivação – de cisma. Senhor, tende piedade.”

Porém, quase toda a hierarquia ou sofre em silêncio ou celebra exultante esse desastre. Mas foi assim também durante a grande crise ariana do século IV, quando, como observou notoriamente o Cardeal Newman:

O conjunto do episcopado foi infiel à sua missão, enquanto o conjunto dos leigos foi fiel ao seu batismo; [e] certa vez o Papa, outras vezes a sé patriarcal, metropolitana e outras grandes sés, e outras vezes concílios gerais disseram o que não deviam ter dito, ou fizeram aquilo que obscureceu e comprometeu a verdade revelada; enquanto, por outro lado, foi o povo cristão que, sob a Providência, tornou-se a força eclesial de Atanásio, Hilário, Eusébio de Vercelli e outros grandes confessores solitários, que teriam fracassado sem ele.

Se devemos ser fiéis às promessas de nosso Batismo e de nossa Confirmação, nós membros do laicato, apesar de indignos pecadores, não podemos permanecer em silêncio ou passivos diante de suas depredações. Somos compelidos pelos ditames da consciência a acusá-lo publicamente diante de nossos irmãos católicos, conforme exigido pela verdade revelada, pela lei divina e natural e pelo bem comum eclesial. Para lembrar o ensinamento de Santo Tomás citado acima, não há qualquer exceção para o Papa em relação ao princípio da justiça natural de que súditos podem repreender seu superior, mesmo publicamente, quando há “perigo iminente de escândalo para a fé.” Bem ao contrário, a própria razão demonstra que, mais do que qualquer outro prelado, o Papa tem de ser corrigido, mesmo por seus súditos, se “porventura se desviar do caminho reto.”

Sabemos que a Igreja não é mera instituição humana e que sua indefectibilidade é garantida pelas promessas de Cristo. Papas vêm e vão, e a Igreja sobreviverá mesmo a este pontificado. Mas também sabemos que Deus se digna operar através de instrumentos humanos e que, mais do que as obrigações essenciais de oração e penitência, Ele espera dos membros da Igreja Militante, tanto do clero quanto dos leigos, uma defesa militante da fé e da moral contra ameaças de qualquer fonte — mesmo que seja do Papa, como a história da Igreja já demonstrou mais de uma vez.

Por amor a Deus e à Bem-Aventurada Virgem, Mãe da Igreja, a quem V.S. professa venerar, suplicamos que abjure seus erros e desfaça o imenso dano que causou à Igreja, às almas e à causa do Evangelho, para que não siga o exemplo do Papa Honório, um protetor e instigador de heresia anatematizado por um concílio ecumênico e por seu próprio sucessor, e assim acabe trazendo sobre si “a ira do Deus Todo-Poderoso e dos Bem-Aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.”

Mas se V.S. não ceder na busca de sua vangloriosa “visão” de uma Igreja mais “misericordiosa” e evangélica do que aquela fundada por Cristo, cuja doutrina e disciplina V.S. tenta dobrar à sua vontade, que os cardeais que se arrependem do erro de tê-lo eleito honrem seu juramento de sangue e ao menos exijam publicamente que V.S. mude de rumo ou entregue o ofício que eles tão imprevidentemente lhe confiaram.

Enquanto isso, temos o dever de opor-nos a seus erros de acordo com nossa própria posição na Igreja e exortar nossos irmãos católicos a se unirem nessa oposição, usando todo meio legítimo a nossa disposição para mitigar o dano que V.S. parece determinado a infligir sobre o Corpo Místico de Cristo. Tendo falhado todos os outros recursos, nenhuma outra opção nos resta.

Que Deus tenha misericórdia de nós, Sua Santa Igreja, e de Vossa Santidade, seu chefe terreno.

Maria, Auxílio dos Cristãos, Rogai por Nós!

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